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segunda-feira, 18 de março de 2013

Trabalho de parto - Benefícios


Essa semana ainda vou falar de Jericoacoara, parte final da nossa viagem em família. Mas vim falar antes de outro assunto. O pequeno que mora aqui dentro está a pleno vapor, mexendo muito e a cada dia estamos mais próximos do parto, e pensando muito nesse dia. Esse texto da Talia, que é Psicóloga para gravidez, parto e pós parto Instrutora de Yoga e Parto Ativo e doula é muito bom, e fala sobre os benefícios do trabalho de parto, no meio das altas taxas de  cesarianas agendadas no nosso país, é bem importante saber, ler e entender sobre a forma natural de parir e nascer.


Os benefícios do trabalho de parto, para a mamãe e o bebê.


Por Talia Gevaerd de Souza
O trabalho de parto é uma parte do processo de nascimento. Sua duração pode variar bastante. O bebê está bem guardadinho dentro do útero. O útero é um órgão formado por feixes de músculos; é como uma bolsa que contém o bebê. Na parte de baixo do útero fica a ‘boca’ desta bolsa, chamada de ‘colo do útero’. O colo uterino se parece mesmo com uma boca, e o trabalho de parto é o processo de abertura dessa ‘boca’. Durante o tempo de trabalho de parto, o útero produz energia e movimento em ondas, chamadas de ‘contrações’, que vão fazendo o colo do útero abrir. Esta abertura é medida, de forma não exata, em ‘dedos’ ou ‘centímetros’ de dilatação. Antes do trabalho de parto propriamente dito começar, o colo do útero vai ficando bem molinho, e fininho. Depois, começa a se abrir, até chegar à dilatação total, traduzida em ’10 cm de dilatação’, ou ’10 dedos de dilatação’. Assim, ao final do trabalho de parto, o útero e o canal vaginal são como um túnel único, que forma o caminho para o bebê descer e nascer.
Vivenciar o trabalho de parto traz inúmeras vantagens e benefícios para a mãe e principalmente para o bebê. Neste texto, citaremos algumas delas:

Uma força começa a transformar a gestação em trabalho de parto. O que será? O que provoca o início do trabalho de parto?
Uma pequena pessoa começa esta aventura: o bebê! É ele que dá início ao trabalho de parto, quando seu pulmão está pronto para funcionar fora do útero. As últimas semanas de gestação são fundamentais para a maturação do pulmão, e para o ganho de peso do bebezinho. E o toque final do processo de maturação pulmonar acontece durante o trabalho de parto!

Hormônios são substâncias mágicas! Fabricados pelo corpo humano, fazem acontecer transformações como o parto, por exemplo. Durante o trabalho de parto fisiológico, mãe e bebê são banhados em um coquetel hormonal preciosíssimo! Aqui, vamos apresentar dois sistemas hormonais básicos do trabalho de parto: o sistema ocitocina é o que faz o útero trabalhar para se abrir. Cada pulso de ocitocina liberado no corpo da mulher significa uma ‘onda’ uterina, ou contração. Cada contração pode durar entre 15 a 90 segundos, aproximadamente. Quando a contração passa, o corpo descansa. Assim se passa o trabalho de parto: períodos de ondas e repouso, até o colo do útero chegar à dilatação máxima. Outro sistema hormonal muito importante e benéfico é o sistema endorfinas. As endorfinas são anestésicos naturais produzidos pelo corpo. Ajudam a aliviar a dor e a trazer sensações prazerosas. A combinação destes hormônios, secretados em altíssima quantidade, sem nenhum paralelo com qualquer outra situação, vai alterando o estado de consciência da mulher. Ela perde a noção do tempo, e se entrega para as sensações que vive. Não é possível detalhar aqui todos os efeitos mecânicos e comportamentais dos hormônios, mas podemos lembrar que a ocitocina é considerada o ‘hormônio do amor’. Ou seja, ela contribui para que mãe e bebê se apaixonem um pelo outro. Além disso, a ocitocina acalma a mulher, e a torna mais tolerante à dor. As endorfinas, hormônios do prazer e do alívio da dor, criam condições para que a mulher entre num estado de êxtase após o parto, e que mãe e bebê tenham sentimentos de dependência um pelo outro. Este é um recurso de sobrevivência: se a mulher se vincula e se apaixona pelo bebê, e sente que o bebê depende dela, ela vê seu filho indefeso como o que há de mais importante em sua vida, se coloca em segundo plano para atender suas necessidades urgentes, e garantir que ele viva forte e saudável. Uma mulher que sente tudo isso defende seu bebê, e não o abandona. O bebê, por sua vez, retribui esta dedicação. O vínculo vai crescendo à medida que o tempo passa, e a mãe percebe que é única e especial para sua criança. Esta é uma das grandes alegrias e recompensas da maternidade.

● As contrações uterinas do trabalho de parto massageiam o bebê e preparam seus órgãos internos para funcionar com eficiência na vida fora do útero.

O bebê é um participante ativo. Ele mexe a cabeça, fazendo movimentos que o ajudam a  descer, para favorecer a dilatação do colo e na passagem pela pélvis da mãe. Permitir que o bebê viva o trabalho de parto significa respeitar o tempo que esta pessoa precisa para processar seu próprio nascimento. Ele está despertando sua força para viver; fazendo uma jornada que o marcará para sempre.

Um trabalho de parto seguro é aquele que a mulher está tranqüila, sem pressa, sem medo. Ela pode ficar na posição que desejar, fazer os barulhos que quiser, e está entregue à experiência, relaxada e respirando livremente. As posições que as mulheres escolhem ficar espontaneamente são, na grande maioria das vezes, verticais e com o tronco inclinado para frente. Este tipo de posição facilita a descida do bebê e a boa oxigenação dele e do útero. Através desta, e de outras medidas, é possível facilitar o processo fisiológico do nascimento; minimizar a dor e aumentar a confiança e satisfação da mulher.
Mas, e o medo do desconhecido? E a dor?
O desconhecido é cada segundo à frente. Ninguém conhece o dia de amanhã, e as surpresas que a vida lhe reserva. O trabalho de parto é um baita buraco negro, onde a luz do fim do túnel fica escondida em vários momentos. Mas esta característica não é privilégio do trabalho de parto. É a vida. É a maternidade toda. Por outro lado, toda mulher tem recursos internos para viver o nascimento de seu filho, para respirar e relaxar junto com a dor, considerando-a uma amiga e uma guia. Nesta entrega, é como se a mulher em trabalho de parto pudesse descortinar novas e inebriantes sensações ao receber a dor e o desconhecido, ao se deixar levar por uma onda de cada vez, e com calma. Atrás da dor e do difícil, estão escondidos prazer, êxtase, felicidade, e sensações e percepções que a palavra não consegue captar.  O trabalho de parto desperta força no bebê. O trabalho de parto ajuda a despertar a mãe dentro de cada mulher. O trabalho de parto leva a mulher ao seu pote de força interior, que também era desconhecido. Ela, a mulher vivendo seu trabalho de parto, não é uma coitadinha sofrendo. Ao contrário, é como uma deusa poderosa, desbravando a si mesma e se superando. Poucas situações na vida conseguem fazer uma pessoa transcender tanto. Não se é a mesma depois dele.
E que todas as mulheres recebam tratamento digno e respeitoso, que sejam protegidas e cuidadas ao viverem seus processos de parir. Que cada bebê tenha seu tempo e necessidades respeitados, que sejam recebidos com amor e atenção neste mundo.