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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O PARTO - Chegada do Theo


Durante a metade da gravidez em diante eu acordava na madrugada e olhava para o relógio 3:00 da manhã, era a hora de ir ao banheiro e voltar, numa dessas "acordadas" eu disse para o Edu, o Theo vai chegar as 3:00 da manhã, ele sempre me acorda essa hora.

Antes da chegada


Noite


Foram 30 horas e meia desde que começou o meu trabalho de parto, ele começou de mansinho, foi evoluindo aos poucos e curti cada minuto de tudo o que senti. Parir é mágico, eu não sabia, mas cada minuto de tudo aquilo é profundo e intenso, é transformador.

Começou na segunda dia 15/07, fui na massagem e enquanto a Suzana fazia a massagem eu falava sem parar, o Nino que estava de férias junto comigo brincava. Saímos de lá e eu comecei a sentir algo diferente. Fui pra casa e comecei a perceber contrações, ainda com uma dor extremamente leve ritmadas, estavam de 12 em 12 minutos.

A noite chegou, e a dor começou a aumentar um pouco, hora de falar com a doula?


A doula

Talia Gevaerd, esse é o nome do anjo que acompanhou a minha gestação e o meu trabalho de parto, se um dia fiquei na dúvida se iria ter uma doula, hoje sei que foi extremamente importante para que eu conseguisse curtir e me entregar ao parto e viver tudo o que passei. Sim, pra mim o trabalho, o carinho e a atenção da Talia foram imprescindíveis para o que vivi.

Mandei uma mensagem as 22:38:

"Estou tendo um desconforto, que esta dando com uma frequencia, é como uma dor de barriga que vai e passa, não tenho idéia se isso pode ser trabalho de parto, pode ser?"

Um pouco depois tive um sangramento. Tremia. Tive medo , muito medo, o medo de uma ruptura uterina passou inúmeras vezes na minha cabeça durante a gravidez, e agora esse sangue? tinha medo de não conseguir, medo pelo Nino, medo de dar algo errado. Queria parir em casa, mas o medo sempre ali. Passei a gravidez com muitos medos...era hora de superá-los, hora de enfrentar?

O médico me orientou e me tranquilizou.

O médico.

Cecílio Toniolo Neto , vale registrar que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito, um médico humano, um médico de verdade, visitei muitos médicos por formação e encontrei poucos com tamanho comprometimento e dedicação à profissão. Respeito a mulher, ao bebê e a família. Agradeço por ter o Cecílio conosco no nascimento do Theo.

Fomos dormir. Eu não dormi, estava ansiosa, excitada com a possibilidade de ver a carinha do Theo logo.

Eu nunca gostei de jogos eletrônicos, três dias antes me rendi ao Candy Crush, e foi com ele que passei a noite, foi providencial. Jogava pra relaxar, sentindo cada contração e marcando o tempo, cada hora que passava ficavam mais próximas.

Dia raiando



As 6:00 da manhã as contrações estavam de 4 em 4 minutos. Liguei pra Talia e pedi pra ela vir. Ela chegou na minha casa, calma, sorrindo e falou pra descansar, já que não havia dormido a noite toda, me poupar, poderia ser próximo, mas poderia ser longo também, e foi o que fiz. Relutando um pouco dormi exausta. Acordava as vezes entre uma contração e outra, a dor aumentava.

Nesse meio tempo o Edu continuou a rotina da casa e entre problemas de telefonia, diarista, barulho dos pedreiros da casa ao lado as contrações espaçaram mais. Não estava conseguindo relaxar, me entregar.

Dia lindo de sol

Saimos para almoçar, entre uma garfada e outra vinha ela, a amiga dor, falava da dor assim , ria cada vez que ela vinha lembrando uma amiga que me dizia que a dor era amiga, mas amiga da onça, ria muito e ainda conversava sem parar entre uma contração e outra. Ainda era razão.



Nino brincava e se divertia, tomou suco de uva, se lambuzou todo e falava, como a  mãe, sem parar.

Tarde fora do relógio





A tarde passou de forma deliciosa, passamos uma tarde agradável, linda, o Nino presente, brincando de montar o tempo todo, e nós todos em volta da brincadeira dele, fizemos lanchinho com pão de queijo e brigadeiro de colher, parecia um dia fora do tempo, onde não tinha trabalho, nem um mundo lá fora, era apenas nós. Muita brincadeira, conversa, abraço e carinho do Nino.



O Nino
Meu primeiro grande amor, razão da minha maior felicidade, foi tão importante contar com aquele sorriso, aquela pureza, aquela alegria naquele momento. Tive medo, queria deixá-lo bem, não queria que sentisse a nossa falta, queria vê-lo curtindo também essa chegada. E foi assim. 



Finalizamos nessa tarde as lembrancinhas do Theo, Nino "roubou" vários chocolatinhos, hoje podia, afinal era dia de festa, dia de chegada!


ATalia me ajudando com massagem , algumas horas com florais, outras apenas me pedindo para pensar na  minha respiração. Eu estava adorando conseguir lidar com aquela dor, com aquele sentimento, deixando fluir a magia do momento, o carinho e o aconchego que sentia. Conseguia aceitar a dor e sabia que logo o Theo chegaria. Respeito pelo momento.

Noite



Um passeio até a maternidade

Eram 19:00 e a dor começou a aumentar, senti necessidade de ir checar minha dilatação no hospital, sempre disse que ficaria o máximo do tempo em casa, mas tenho uma necessidade de controle, sempre, e ela me pedia pra eu ver a que pé andava as coisas.

Fui na maternidade. Doía. O médico de plantão queria me internar, mas o meu médico pediu pra eu voltar pra casa, ele sabia que eu queria chegar na hora. Pediu pra eu voltar e tomar um bom banho e voltar depois de umas 2 horas.

E foi o que fizemos.

Chegamos em casa, a Aline , uma amiga querida, veio pra minha casa, me senti segura em não tirar o Nino de casa, deixá-lo dormir no canto dele e ela se propôs a ficar em casa com ele, me deu um alívio. Queria ficar com ele até a  hora de ir. Pensei nele em cada momento do dia e em muitos momentos do trabalho de parto em que ainda viria. queria ele bem, ele feliz, ele tranquilo. Ele ficou, brincou por horas e se divertiu com ela e com o Allan, ele sempre se deu muito bem com ela. Queria ela aqui. E ver ele bem me tranquilizou. Muito a agradecer por esses dois grandes amigos que largaram seus trabalhos, sua  casa e conforto para estar conosco nessa hora.


 Queríamos ele conosco no primeiro minuto possível após o parto. Fizemos tudo para que não fosse gerada ansiedade na família, no dia do nascimento do Nino, todos estavam tão agitados, não queríamos essa ansiedade dessa vez, queríamos contar apenas que nosso bebê nasceu, sem expectativas, sem cobranças, apenas como a natureza fosse nos levando, deixamos para contar a todos depois que o Theo chegasse ( nem todos entenderam essa decisão, mas era forte pra gente, importante). Era o nascimento do nosso filho, uma vida chegando. E era também o meu parto que queria viver. Pra mim e pro Edu todo esse ritual anterior era importante, fazia sentido.

o Edu
O Edu se preparou comigo, planejou e vivenciou cada minuto do parto, me ajudando, me tranquilizando, me acariciando, me cuidando, hora me irritando também ( como não, se não não seria eu e o Edu.)
Um grande parceiro, um amigo, um amor, um homem de verdade, que vibrou com tudo que presenciou.


A bola de pilates 

Voltamos da maternidade, peguei a bola de pilates, ah a bola, achava tanta besteira o uso dela, pra que? sinta uma contração lá no fundo, sente nela e jogue uma ducha nas costas, e saberá que ele tem seu valor.



 Foi um tempo que não sei mensurar, fiquei no chuveiro, sentindo as dores e a cada minuto a certeza de que estava mais próximo, chegando a hora, a água escorria, a mente se esvaziava e eu começava a enxergar o que não conseguia ver, era só aquele momento, único, vivo, longe, próximo, era um momento de descoberta, prazer e dor, queria tanto viver aquilo, satisfação e gratidão por tudo o que sentia.

Pedi pra ver o Nino, tinha medo, estava vivendo uma viagem, a um desconhecido, lá dentro, talvez o mais fundo que pude chegar de mim, um campo jamais atravessado, era mágico, um pouco assustador e muito feliz, eu estava sentindo, sentindo ondas de amor e dor, transcendendo.



Ligação. Era meu médico. Pedindo pra eu voltar, estava no hospital me esperando. Dei um beijo longo no Nino e me perguntei porque não fiz em casa, perto dele, mas eu precisava ir, tinha optado pelo hospital.


após o banho. Hora de ir

Pausa na escada antes de ir. A dor.

Chegando a hora


No caminho lembrei aos dois o que eu queria e eu não queria, se precisasse da anestesia ok, não queria antes, mas tinha medo que o Edu não deixasse (porque em algum momento tinha falado pra ele não deixar), queria decidir. Postei no blog a contagem progressiva antes do parto, foi nessa hora.

Fomos para o quarto, a dor apertou bastante, o Edu tenso começou a arrumar as coisas, sempre que ele fica tenso ele arruma algo, preferencialmente enrola fios, como lá não tinha fios, arrumava o quarto, eu sabia que ele estava tenso, pedi pra ele parar, não queria arrumação.

Essa hora doía muito. ele me lembrou da minha seleção de músicas para o parto, como eu queria, preparei tudo, eram 8 musicas que eu carinhosamente havia escolhido prara a chegada do Theo. Eu parei enfim de falar, não conseguia pensar, não queria mais música, não queria som.

E  a bola, cocorar, sentar, ficar em quatro apoios? nada, eu não queria mais nada, nem carinhos, nem sugestões, nada funcionava mais. Queria silencio. E foi um lindo silêncio. Os tres ficaram mudos, sentia uma força, sem falar nada parecíamos rezar, orar, nos conectávamos com o universo. Foi intenso, um silêncio forte e profundo.

Pensava no Nino, não lembrava , mas depois a Talia me relatou que nessa hora eu disse estar com saudades dele.

Até aqui lidei bem com a dor, respirava, vocalizava e utliizava mecanismos pra lidar com ela, contava até ela passar, respirava, pensava em todas as práticas das aulas de Yoga, mas foi aí, de um minuto pra outro que parei, deixei de controlar, algo me conrolou, a dor passou as barreiras e eu não conseguia mais.

A bolsa não havia rompido, achei que demoraria muito, não conseguia mais suportar aquela dor. Botei tudo pra fora, junto o medo, a razão. Meu corpo se abria, sentia abrir, sentia a força, uma força louca, eu não mandava em mais nada, saí do meu conforto, de todo o meu controle, eu não sabia lidar, mas queria muito tudo aquilo. Pedi um anestesia pra conseguir suportar. Decidi.

Antes fui novamente para o banho, contrações fortes, cara### , doía muito, o chuveiro estava queimado, água fria, dor, levei choque ao tentar esquentar, entrei em desespero, doía muito, pedia pro Edu arrumar, mas nada mais adiantava, era dor, era água fria, frio de inverno, choque. Queria sair dali, foram os minutos anteriores à minha ida ao centro cirúrgico.
Era a minha experiência, eu estava vivendo o que eu precisava viver, os meus limites, a minha dor.

Era eu, era sozinha, só eu. Tem uma hora que senti só, e um momento de tanto autoconhecimento e a certeza de que era meu, eu estava só, mas protegida com muito amor. 


Centro cirúrgico


Não estava nos meus planos. O meu plano era fazer o parto todo no quarto, mas também não estava resistente a idéia de ir pra lá, estava aberta as possibilidades, queria me permitir, sentir o momento. E foi assim.
Cheguei no centro cirúrgico, pedia desesperadamente a anestesia, eu agora queria, meus únicos gritos foram lá, estava cansada, foram tantas horas de sentimentos profundos e intensos. Eu queria ver o Theo. Estava entregue. sabia que agora saia do meu domínio, que daquela porta em diante não era mais eu quem comandava a situação.

Mas eu aceitei. Deitei, estava cansada e não encontrava mais posição. Queria receber o Theo.

Senti algo descendo, era a bolsa, saiu a ponta sem estourar, parecia um saco, era estranho, achei que era cabeça do Theo, pedi a anestesia novamente, estava com dilatação total. Tudo pronto.

Talvez não precisasse, mas eu quis, quis muito, e a anestesia chegou.

Sorri, senti um alívio, sentia as contrações mas a dor se foi.



Depois disso foi tudo muito rápido. Mesmo estando no Centro cirúrgico foi tudo muito humano, muito respeito,  o meu médico me falou e perguntou cada detalhe. Mesmo sendo um ambiente mais frio e impessoal me senti acolhida, o Edu, a Talia o tempo todo comigo.

O Nascimento


Senti cada pedacinho do corpinho do Theo vindo, foi lindo, uma alegria. Uma sensação plena, um amor inesgotável.




Consegui. Tinha conseguido o meu VBAC, tive medo de não conseguir muitas vezes,  me senti tão feliz por ter superado isso, parir após a minha cesárea, que me trouxe o meu primeiro amor , sentimento de alegria, gratidão, queria viver aquilo. Cada um da sua forma, com a sua história, dia 1o. de julho e 17 de julho foram os dias mais alegres da minha vida, a chegada dos meus meninos. O amor quando os nossos olhares se cruzaram foi o mesmo, mas eu sabia que eu precisava passar por essa experiência.




Muitas vezes senti por não ter podido pegar o Nino no primeiro momento, amamentado e acalentado ele na hora que ele saiu de mim. Aprendemos muito com o nosso primeiro grande amor, não seria igual.


O Theo veio direto pro meu peito, mamou na hora, é um menino forte, lindo, peguei nele no momento exato que nasceu e senti o amor pulsando na minha mão.



O Du cortou o cordão que pulsou por um tempo ainda ligado ao bebê, como planejamos.
O amor estava nos meus braços, um pedacinho de mim tinha chegado. Foi uma felicidade tão imensa. Ele chegou com 3.835 quilos, aquele corpinho escorregadio,  já me ensinando tanto.

Eram 3:00 da manhã.

Saímos de lá, o Theo não passou por todas as intervenções de rotina, o Edu não deixou como haviamos combinado, fomos para o quarto tão felizes, tão amor, queria dormir, acordar e esperar a chegada do Nino para enfim conhecer seu irmão.


Dormi abraçada. Me sentindo a pessoa mais completa do mundo.  Tudo ficou diferente. Agora somos 4.

De manhã o encontro. Foi lindo ver os irmãos. Amor demais.

Gratidão.










ps. Assim que eu conseguir editar trago um vídeo com um pouco desse dia lindo de sol.











segunda-feira, 18 de março de 2013

Trabalho de parto - Benefícios


Essa semana ainda vou falar de Jericoacoara, parte final da nossa viagem em família. Mas vim falar antes de outro assunto. O pequeno que mora aqui dentro está a pleno vapor, mexendo muito e a cada dia estamos mais próximos do parto, e pensando muito nesse dia. Esse texto da Talia, que é Psicóloga para gravidez, parto e pós parto Instrutora de Yoga e Parto Ativo e doula é muito bom, e fala sobre os benefícios do trabalho de parto, no meio das altas taxas de  cesarianas agendadas no nosso país, é bem importante saber, ler e entender sobre a forma natural de parir e nascer.


Os benefícios do trabalho de parto, para a mamãe e o bebê.


Por Talia Gevaerd de Souza
O trabalho de parto é uma parte do processo de nascimento. Sua duração pode variar bastante. O bebê está bem guardadinho dentro do útero. O útero é um órgão formado por feixes de músculos; é como uma bolsa que contém o bebê. Na parte de baixo do útero fica a ‘boca’ desta bolsa, chamada de ‘colo do útero’. O colo uterino se parece mesmo com uma boca, e o trabalho de parto é o processo de abertura dessa ‘boca’. Durante o tempo de trabalho de parto, o útero produz energia e movimento em ondas, chamadas de ‘contrações’, que vão fazendo o colo do útero abrir. Esta abertura é medida, de forma não exata, em ‘dedos’ ou ‘centímetros’ de dilatação. Antes do trabalho de parto propriamente dito começar, o colo do útero vai ficando bem molinho, e fininho. Depois, começa a se abrir, até chegar à dilatação total, traduzida em ’10 cm de dilatação’, ou ’10 dedos de dilatação’. Assim, ao final do trabalho de parto, o útero e o canal vaginal são como um túnel único, que forma o caminho para o bebê descer e nascer.
Vivenciar o trabalho de parto traz inúmeras vantagens e benefícios para a mãe e principalmente para o bebê. Neste texto, citaremos algumas delas:

Uma força começa a transformar a gestação em trabalho de parto. O que será? O que provoca o início do trabalho de parto?
Uma pequena pessoa começa esta aventura: o bebê! É ele que dá início ao trabalho de parto, quando seu pulmão está pronto para funcionar fora do útero. As últimas semanas de gestação são fundamentais para a maturação do pulmão, e para o ganho de peso do bebezinho. E o toque final do processo de maturação pulmonar acontece durante o trabalho de parto!

Hormônios são substâncias mágicas! Fabricados pelo corpo humano, fazem acontecer transformações como o parto, por exemplo. Durante o trabalho de parto fisiológico, mãe e bebê são banhados em um coquetel hormonal preciosíssimo! Aqui, vamos apresentar dois sistemas hormonais básicos do trabalho de parto: o sistema ocitocina é o que faz o útero trabalhar para se abrir. Cada pulso de ocitocina liberado no corpo da mulher significa uma ‘onda’ uterina, ou contração. Cada contração pode durar entre 15 a 90 segundos, aproximadamente. Quando a contração passa, o corpo descansa. Assim se passa o trabalho de parto: períodos de ondas e repouso, até o colo do útero chegar à dilatação máxima. Outro sistema hormonal muito importante e benéfico é o sistema endorfinas. As endorfinas são anestésicos naturais produzidos pelo corpo. Ajudam a aliviar a dor e a trazer sensações prazerosas. A combinação destes hormônios, secretados em altíssima quantidade, sem nenhum paralelo com qualquer outra situação, vai alterando o estado de consciência da mulher. Ela perde a noção do tempo, e se entrega para as sensações que vive. Não é possível detalhar aqui todos os efeitos mecânicos e comportamentais dos hormônios, mas podemos lembrar que a ocitocina é considerada o ‘hormônio do amor’. Ou seja, ela contribui para que mãe e bebê se apaixonem um pelo outro. Além disso, a ocitocina acalma a mulher, e a torna mais tolerante à dor. As endorfinas, hormônios do prazer e do alívio da dor, criam condições para que a mulher entre num estado de êxtase após o parto, e que mãe e bebê tenham sentimentos de dependência um pelo outro. Este é um recurso de sobrevivência: se a mulher se vincula e se apaixona pelo bebê, e sente que o bebê depende dela, ela vê seu filho indefeso como o que há de mais importante em sua vida, se coloca em segundo plano para atender suas necessidades urgentes, e garantir que ele viva forte e saudável. Uma mulher que sente tudo isso defende seu bebê, e não o abandona. O bebê, por sua vez, retribui esta dedicação. O vínculo vai crescendo à medida que o tempo passa, e a mãe percebe que é única e especial para sua criança. Esta é uma das grandes alegrias e recompensas da maternidade.

● As contrações uterinas do trabalho de parto massageiam o bebê e preparam seus órgãos internos para funcionar com eficiência na vida fora do útero.

O bebê é um participante ativo. Ele mexe a cabeça, fazendo movimentos que o ajudam a  descer, para favorecer a dilatação do colo e na passagem pela pélvis da mãe. Permitir que o bebê viva o trabalho de parto significa respeitar o tempo que esta pessoa precisa para processar seu próprio nascimento. Ele está despertando sua força para viver; fazendo uma jornada que o marcará para sempre.

Um trabalho de parto seguro é aquele que a mulher está tranqüila, sem pressa, sem medo. Ela pode ficar na posição que desejar, fazer os barulhos que quiser, e está entregue à experiência, relaxada e respirando livremente. As posições que as mulheres escolhem ficar espontaneamente são, na grande maioria das vezes, verticais e com o tronco inclinado para frente. Este tipo de posição facilita a descida do bebê e a boa oxigenação dele e do útero. Através desta, e de outras medidas, é possível facilitar o processo fisiológico do nascimento; minimizar a dor e aumentar a confiança e satisfação da mulher.
Mas, e o medo do desconhecido? E a dor?
O desconhecido é cada segundo à frente. Ninguém conhece o dia de amanhã, e as surpresas que a vida lhe reserva. O trabalho de parto é um baita buraco negro, onde a luz do fim do túnel fica escondida em vários momentos. Mas esta característica não é privilégio do trabalho de parto. É a vida. É a maternidade toda. Por outro lado, toda mulher tem recursos internos para viver o nascimento de seu filho, para respirar e relaxar junto com a dor, considerando-a uma amiga e uma guia. Nesta entrega, é como se a mulher em trabalho de parto pudesse descortinar novas e inebriantes sensações ao receber a dor e o desconhecido, ao se deixar levar por uma onda de cada vez, e com calma. Atrás da dor e do difícil, estão escondidos prazer, êxtase, felicidade, e sensações e percepções que a palavra não consegue captar.  O trabalho de parto desperta força no bebê. O trabalho de parto ajuda a despertar a mãe dentro de cada mulher. O trabalho de parto leva a mulher ao seu pote de força interior, que também era desconhecido. Ela, a mulher vivendo seu trabalho de parto, não é uma coitadinha sofrendo. Ao contrário, é como uma deusa poderosa, desbravando a si mesma e se superando. Poucas situações na vida conseguem fazer uma pessoa transcender tanto. Não se é a mesma depois dele.
E que todas as mulheres recebam tratamento digno e respeitoso, que sejam protegidas e cuidadas ao viverem seus processos de parir. Que cada bebê tenha seu tempo e necessidades respeitados, que sejam recebidos com amor e atenção neste mundo.