domingo, 20 de outubro de 2013

Humanização do parto em Curitiba - marcha




Logo que assisti, prometi falar sobre o filme ORenascimento do Parto, o tempo foi passando, a vida uma loucura, e fui deixando pra depois. Confesso que o que tem me entretido muito no momento é amamentar e tentar desnoiar da questão curva do peso X amamentação. Mas nesse sábado dia 19/10 rolou a Marcha pela Humanização do Parto, e obviamente essa manifestação faz com que eu reviva e pense muito no que senti quando assisti o filme, o que senti da minha história com o nascimento dos meus filhos e o que eu sinto em relação ao mundo e as outras mães que ainda vão parir ou não, principalmente aquelas que não irão por imposição, desinformação ou má fé de alguns profissionais ( e sim, existe, para quem ainda não acredita que isso acontece).
A marcha aconteceu em várias cidades do Brasil, muitas vozes, muita gente querendo mudar, muita gente que já sofreu com as feridas de seus partos que nunca aconteceram, muita gente que pariu porque brigou para ter um tratamento respeitoso, profissionais que lutam pela humanização do parto, mães, pais, crianças, todos lá, por uma única causa, mudar algo que está errado, colocar na linha o que saiu dela de forma grotesca e manipulada. Fui marchar, protestar, participar, porque acredito sim que isso pode mudar, e vejo aos poucos as coisas mudando, vejo passos em direção a uma mudança. 
Nada do que eu digo aqui diz respeito às escolhas de cada mãe, mas ao problema de todo um sistema obstétrico que nos induz ao erro, nos cala, nos desrespeita, desrespeitou o meu filho e desrespeita diariamente muitos bebês e suas famílias.


Esses dias fui no Centro de Parto Ativo fazer o meu relato do parto do Theo, contar um pouco de como foi pra mim viver o VBAC, superar alguns medos e me entregar a tamanha emoção. Porém lembro que antes mesmo de começar a falar sobre a minha história me ocorreu falar sobre o meu processo para conseguir parir, infelizmente no modelo obstétrico que nos encontramos hoje no atendimento particular parir é mais que uma escolha, é uma procura por profissionais que estejam dispostos e muita informação, é muito triste que o normal já não é tratado como normal e hoje precisamos nos munir de muitas coisas para que o parto normal aconteça de forma respeitosa e tranqüila. 
Transito por muitos círculos de mães, e a quantidade de mães enganadas, manipuladas e violentadas é avassaladora. No sistema público, onde os partos acontecessem, muitas são obrigadas a parir deitada, sem que possam comer ou se mexer, como praxe é colocada ocitocina sintética para acelerar o parto e muitas mulheres são humilhadas por gritar, não podem ter seus trabalhos de parto acompanhados por seus companheiros, não existem opções, a mulher é simplesmente um produto de um sistema industrial, já no sistema privado a coisa é ainda pior, a maioria das mulheres simplesmente não podem parir , porque erroneamente são levadas a acreditar que existem problemas, que de fato não existem ou simplesmente são incapazes, porque na realidade aquela mulher custa muito tempo para a maioria dos médicos. Não existe humanização.
Eu fotografo gestantes, participo de alguns grupos de mães, tenho muitas amigas e muitas delas terão seus partos no sistema privado. A maior parte fala que quer tentar um parto normal, eu sempre pergunto qual é o seu médico, e quando a resposta é qualquer um que não a meia dúzia de médicos que já conheço e as enfermeiras do Grupo Luar Parto Domiciliar (maravilhoso trabalho) sei que a chance desse parto acontecer é muito pequena,  boa parte só vai acontecer se o neném escorregar (e olhe lá!). Infelizmente fora do circuito de médicos que habitualmente atendem o parto normal a chance dele não acontecer é gigantesca. Parece absurdo, mas é a triste realidade.
 Durante a minha gestação do Theo cheguei ouvir que estava obcecada por um parto, fiquei chateada, mas realmente teve um período que falava muito sobre isso, hoje sei que aquele movimento foi extremamente importante. Se eu não tivesse procurado muita informação, conversado com as pessoas certas, não tivesse a minha doula comigo, um bom obstetra que concorde com um parto humano (desconfio que existam inúmeros que sequer sabem fazer algo além de cirurgias), não tivesse freqüentado grupos de mães, falado muito, conversado, desejado tanto, meu parto pós cesárea não teria acontecido, mesmo que fisiologicamente estivesse tudo certo o médico errado teria me convencido a desistir por falta de dilatação, contração ou qualquer outro motivo torpe. Ora foram 30 horas de trabalho de parto!  E aconteceu, e foi lindo.
E se não pude ou não soube ter voz quando o Nino demorou 5 horas pra estar comigo e ser acalentado e amamentado na hora que nasceu, dessa vez foi diferente. Sem aspiração, cordão pulsando após a saída do bebê, sem o banho esfregão assim que o bebê sai da barriga, amamentando desde o primeiro minuto de vida e sem nenhuma separação durante a minha estadia na maternidade. Pra que isso acontecesse, me muni de muita informação e bons profissionais. Hoje sei, que sem isso não teria sido assim.
Hoje durante a nossa marcha, onde cantamos, falamos, distribuímos panfletos foi passando um filminho na minha cabeça, como aconteceu durante o filme. As vezes penso, como deixei que que o meu pequeno grande amor ficasse 5 horas longe de mim, o que me impedia de dizer o que eu queria? o que me impedia de me empoderar e de simplesmente ter voz? Penso o quanto errei com a chegada do meu querido que tanto transformou a minha vida, aquele corpinho frágil separado de mim logo no início, como pude errar com ele, logo com ele? quantas mães não se sentiram impotentes nos seus partos no hospital? quantas se calaram apenas por aceitar um sistema que não coloca a mãe como protagonista e sim como coadjuvante de seus próprios partos?


Adelita 
Marchei por mim e por todas as outras mulheres, marchei pelas crianças, marchei por um mundo onde se respeita profissionais que cuidam do bem nascer dos nossos bebês, marchei pela nossa amiga e enfermeira Adelita Gonzales do Grupo Luar que sofreu perseguição e foi afastada no hospital onde trabalhava por respeitar mãe e bebê cuidando do nascimento como ele deve ser e por tantos outros profissionais perseguidos por um sistema obstétrico precário e desrespeitoso. Marchei por um mundo mais humano.
E que o mundo nos escute, e que as mulheres se empoderem , que o sistema obstétrico do nosso país passe por profundas mudanças. Que as muitas mulheres e famílias unidas clamando por mudanças sejam ouvidas e finalmente que o mundo possa mudar. E que a frase tão repetida e que tem estampado o ativismo materno seja abraçada:


"Para mudar o mundo é preciso mudar a forma de nascer" Michel Odent


Família reunida na Marcha








9 comentários:

  1. Linda experiencia e muita força para todas nós. Também acompanhei a marcha e tenho a impressão de que as coisas vão mudar, mesmo que a desinformação seja grande. Temos que continuar lutando, manifestando e denunciando toda a violência que não pode ser vista como algo normal. nenhum meio que se utilize de violência é normal e muitas vezes pode ter suas raízes na etapa mais importante da formação humana desde a gestação, o momento de chegada dessa criança ao mundo a forma como é acolhida e como será sua relação com o universo a sua volta durante a infância. Tenho dois filhos a Surya e o Hayan que nasceram em casa foram partos muito lindos que ficarão para sempre na memória como motivo de grande alegria e esperança de que outros profissionais como as nossas queridas parteiras do grupo luar, possam abraçar essa causa e se maravilhar com a magia desse momento de plenitude vivenciado por todos aqueles que se permitirem essa experiência transformadora. E assim continuamos nossa luta pela vida...muito obrigada Laís pelo espaço...grande abraço em você e na sua família linda. Parabéns

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  2. Priscila obrigada pelo seu comentário. Tenho certeza que teve um momento especial e seus bebês nasceram com todo o respeito. Espero que as coisas realmente mudem e mais gente possa parir com esse aconchego, profissionalismo e respeito que as meninas do Grupo Luar trabalham. A realidade do nosso país precisa mudar e acredito que vai, pois tem muita gente querendo e lutando por mudanças. E o movimento é crescente. As "mãezinhas"como geralmente são chamadas no hospital estão ganhando voz, saindo às ruas e exigindo um mundo melhor. Bjo grande

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  3. Oi Laiz, estou na 9ª semana de gestação e recentemente descobri seu blog. Gostei mto das informações, e como estou um pouco descontente com minha atual obstetra, gostaria de saber se vc pode citar o nome dos bons obstetras que vc comentou no post.. Pretendo fazer parto na água, mas aqui em Curitiba está bem escasso esse procedimento, parece que só um obstetra faz, e só um hospital tb.. Pra ajudar, meu plano de saúde não cobre nem um, nem outro.
    Aguardo seu retorno, e desde já obrigada!

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    1. Oi Fernanda, vou te passar os contatos via facebook ta?! Bjos

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  4. Olá Laiz, muito bom seu post e muito bom saber que muitas mamães aqui de Curitiba estão lutando contra esse sistema que é um circo de horrores, absurdo!
    Estou na 25 semana do nosso primeiro filho =D e ultimamente as pessoas me veem como obcecada por parto humanizado!!!Outras mães me olham como se eu estivesse louca, ou como se fosse mais uma 'natureba' ao lutar por um parto mais natural possível.
    Quando nosso bebê nascer quero poder testemunhar minha vitória sobre o sistema, com um parto humanizado(mesmo dentro de um hospital) após abrir mão de um plano de saúde que já me maltratou e me manteve desinformada no início da gestação e me vi disposta a migrar para o SUS, onde lindamente encontrei uma maternidade que está mudando todos os conceitos e abrindo caminho para o humanização do parto.
    Simplesmente me apaixonei quando na visita a maternidade eu e mais gestantes e acompanhantes fomos apresentados uma pequena parte do filme 'O Renascimento do Parto', onde uma enfermeira obstetra(experiente em partos domiciliares) chorou ao relatar violências obstétricas e intervenções desnecessárias.
    Hoje estou feliz e ansiosa, não vejo a hora de liberar o MEU hormônio do amor, com o direito de dizer NÃO a episio, de saber que assim que ele nascer irá direto para os meus braços receber todo amor e carinho dos pais dele...

    Imensamente feliz por hoje estar cada vez mais informada por tantas mulheres que compartilham de seus momentos bons e ruins, seus ideais, sonhos e abrir caminhos para novas mamães como eu, estarmos convictas em lutar por nosso direito de parir.

    Beijos

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    1. Olá Juline, que mensagem linda e tão cheia de amor e empoderamento. Muito feliz em saber sua história tão diferente de muitas mães que conheço que precisaram passar por uma violência para se darem conta da realidade obstétrica no nosso país.Parabéns por se informar e tornar-se protagonista da sua historia com sua família. Boa hora pra você! Se precisar de algo conte comigo! Bjos

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  5. Olá Laiz, pesquisando por parto humanizado em Curitiba encontrei seu blog, e vou acompanha-lo a partir de hoje. Pelo pouco que li já gostei e me identifiquei com tudo :D
    Estou na minha segunda gravidez (12 semanas) e a dificuldade em encontrar profissionais que apoiem o parto humanizado está enorme, também queria a indicação dos médicos que você citou. Meu primeiro parto foi normal, porém com uma episio enorme feita sem nenhum tipo de anestesia :( que me fez sofrer por semanas, sem nem sequer poder sentar de tanta dor, além de ter minha princesa longe de mim nas primeiras horas... Hoje sei que não precisa ser assim, e não quero que seja assim, porém preciso de informação... Se puder me ajudar agradeço imensamente

    Beijos Claudia

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    1. Olá Claudia, seja bem vinda por aqui! Existem realmente poucos profissionais que apoiam o parto humanizado em Curitiba e é uma tarefa difícil encontrá-los, mas existem, eu super indico o meu médico Cecilio Toniolo Neto, pari com ele e já fotografei alguns partos dele. é um profissional excelente!!! Imagino a dor de uma episio sem anestesia (aliás como uma coisa dessas?). Você quer um parto hospitalar? Ja decidiu se terá uma doula? Se precisar de ajuda conta comigo! Meu e-mail pessoal é lacazm@hotmail.com Bjoooos

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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Essa é a parte que eu mais gosto!
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